sexta-feira, 23 de maio de 2008

Memória musical


Em 30 de abril de 2005, publiquei no blog antigo uma resenha do segundo disco do Kings of Leon, recém lançado no Brasil naquela época. A banda me conquistou assim que "Youth and man manhood" chegou às lojas do mundo inteiro. O riff e o refrão de Molly's chambers foram fundamentais para que eu me apaixonasse pela banda logo de cara. A estréia dos caras era fantástica, uma sucessão de rocks clássicos bem executados e empolgantes.


Já "Aha shake heartbreak", segundo disco, não seguia o exemplo do primeiro. Apesar de ser muito bom, boa parte das músicas eram mais arrastadas e melancólicas. Resultado, provavelmente, do tempo que os garotos ficaram em turnê pelos Estados Unidos e pela Europa. No texto abaixo eu menciono as mudanças nas letras e que todas as influências conhecidas ainda eram perfeitamente reconhecíveis.

Meses depois, em outubro, eu encarava uma viagem de Brasília a São Paulo para vê-los junto com Strokes e Arcade Fire (que eu nem conhecia na época) na perna paulista do TIM Festival. Muitos esperavam uma presença de palco similar àquelas bandas de hard rock farofa, que correm para cima e para baixo do palco. Como guris ainda conhecendo as coisas, não se mexiam. Limitaram-se a executar quase perfeitamente todo o set daquela noite de domingo - exceção a Molly's chambers, que abriu o show em marcha lenta.


"Os reis do rodeio

Três irmãos, filhos de um reverendo da igreja Protestante, e um primo decidem montar uma banda. Colocar em melodias tudo que eles ouviram durante toda a infância e início de adolescência. Muito Creedance Clearwater Revival, muito Rolling Stones, muito AC/DC. Chega a ser surpreendente, já que esses meninos todos nasceram entre meados da década de 1980 e o início da de 1990. O mais imaginável seria que eles ouvissem bandas do movimento grunge, alguma coisa de indie. Ou, o mais provável, que se entupissem de new metal e outras coisas do gênero.

Em setembro de 2003 lançaram o primeiro disco. Era uma época em que ainda ensaiavam escondido dos pais. Imagina se um reverendo iria gostar de ver seus filhos tocando a música do diabo! 'Youth & man manhood' foi recebido com um tanto de indiferença nos Estados Unidos. Mas na Inglaterra foi diferente. Assim como tinha acontecido com R.E.M., Nirvana e uma mão cheia de outras bandas, os ingleses reconheceram o talento dos moleques nascidos em Nashville, Tennessee.

Os irmãos Caleb (22 anos, voz e guitarra), Jared (17 anos, baixo) e Nathan (24 anos, bateria), além do primo Matthew (19 anos, guitarra), todos com o sobrenome Followill, com o novo disco, 'Aha shake heartbreak', provavelmente não conquistar novos fãs. Não existem coisas novas. E também não tem uma música que tenha a força que Molly's chambers tinha no primeiro álbum. Mas também não perder aqueles que já gostam do quarteto. As influências estão todas ali. Uma pitada de Creedance, um pouquinho de Stones, um vocal que às vezes lembra o falecido Bon Scott, do AC/DC.

A grande diferença está nas letras. A turnê de 18 meses que os guris fizeram os proporcionou ver coisas que nunca imaginaram. Se antes as letras de 'Youth & man manhood' eram inocentes e falavam sobre assuntos que eles apenas poderiam imaginar, agora o negócio é pra valer. Como fazer sexo com uma prostituta de 17 anos (Slow night, so long), por exemplo. 'Nós escrevemos sobre coisas neste disco que nós estamos envergonhados, dizemos coisas que normalmente não dizemos. Têm canções sobre brigas, algumas sobre amores e outras sobre transas', diz Caleb Followill, impregnado pela culpa protestante, no site oficial da banda. 'Nós definitivamente não somos as mesmas pessoas de 18 meses atrás.'

Esse é provavelmente o ponto alto do disco. Sem supresas, sem um hit potencial - os destaques ficam para King of the rodeo, Razz, Day old blues e Velvet snow -, as letras acabam se sobressaindo. É a prova da evolução. Uma evolução lenta, segura e gradual. E naquela prova do 'segundo álbum', o Kings of Leon se deu bem. Se não surpreendeu, se não inovou, pelo menos não perdeu a mão para fazer boas canções de rock'n'roll. Não caíram numa de não querer se lembrado, de querer ser esquecido. E perderam a inocência de moleques do interior, que é uma coisa boa."

3 comentários:

DB disse...

Por incrivel que pareça, Mollys Chambers não é a música que eu mais gosto deles.
Acabei me identificando mais com o segundo disco, talvez, por tê-lo ouvido primeiro que o primeiro...heheh
Mas, cara, o terceiro, caiu um pouco de nível. Eles acrescentaram alguns elementos que o tiraram da rota original.
mas ainda assim eles estão no meu top 3 de bandas!

Mário Coelho disse...

O terceiro disco é tão fraco que impacta na primeira audição. Se você persistir, vai encontrar umas duas ou três boas músicas. O resto é puro lixo.

DB disse...

McFearless é legal. Charmer tb acaba se tornando legal...