quarta-feira, 21 de julho de 2010

All we need is... love?

A festa rola que é uma beleza. Pista cheia, aquela fumaça misturada de cigarro e gelo seco, pessoas suadas, alegres e dançantes. A música segue uma certa lógica. Aquele rock alternativo de quase sempre, os hits que todos gostam de cantar. A hora, então, com o julgamento mais alterado, já é propícia para tocar algo mais pop. Em lugares mais tolerantes, sim. Pelo que tenho lido e visto, não pode mais nas minhas duas cidades.

Leio em um blog que já não me lembro mais qual é da insatisfação da galerinha alternativa ao ver outras pessoas de diferentes "tribos" (argh, se eu escrever isso de novo, xinguem-me, por favor!) ao começar a frequentar as festinhas do antigo puteiro. A música de repente fica mais acessível. O público diverso. Patricinhas de salto de acrílico e bolsas da Louis Vitton dividem o mesmo espaço com adolescentes lésbicas de óculos quadrados e cabelos cortados por facões. Playboyzinhos de camisa polo e rapazes de bigode e camiseta do Artic Monkeys.

São estereótipos, claro. Mas dá para entender a divisão. Há um choque de culturas. Casais homossexuais reclamam dos olhares tortos que ganham do povo novo na festa. E a galera acostumada às boates mais caras da cidade estranham aquele ambiente de permissividade, aquela alegria toda. Aí, ambos os lados assumem uma postura intransigente. "Não volto mais lá, só tem viado!", diz um. "Não ponho mais meus pés lá enquanto esses heteros homofóbicos forem lá", replica o outro.

Muda de cidade e de situação. No Planalto Central, começa uma campanha para que não sejam mais tocadas músicas de uma determinada cantora pop. Tem uma plaquinha dizendo para ninguém insistir bem na frente das CDJs. Ah, se mesmo assim um desavisado sugerir um hit sequer dela, vai ouvir um dos pioneiros do trash metal no lugar. Ao mesmo tempo, o mesmo povo que boicota a canção quer "ensinar" aos outros o que ouvir.

Um dos gênios da ideia diz a um blog famoso no meio da música alternativa que não é nada contra o pop. Para ele, a cantora em questão não possui qualidade. Com a intenção de provar como ele entende de música, cita outras cantoras pop que costuma tocar. Quando parte para um argumento assim, tão fácil de ser descontruído, é sinal de que tudo que inventou foi por birra. Até arrogância, coloquemos assim. Ele (s) quer (em) ensinar e ditar às pessoas o que elas devem ouvir.

Em comum, nos dois casos, a falta de tolerância. Vivemos em um mundo cada vez mais intolarante, binário, maniqueísta. Isso me cansa. Tenho tido cada vez mais preguiça de seguir nesse ambiente podre. Nem insisto mais em discutir. Não adianta querer convençar com pessoas que acreditam viver num mundo de preto e branco, sem reconhecer as diferentes matizes, as diversas cores e diversos lados que compõem a vida. O pior é ver a intolerância aumentar cada vez num ambiente lúdico, da arte: a música.

É preciso exercitar a tolerância. Por trás de uma postura supostamente homofóbica, pode muito bem existir uma pessoa que repele, inicialmente, aquilo que não conhece. Mas, depois, adapta-se e esquece tudo que pensava no começo. O mesmo caso na música. Com todo acesso facilitado que hoje existe, foi-se o tempo que alguém conhecia uma banda nova na pista. Na maioria, quem sai, quer se divertir. E não ter que aturar mundinho interior de DJs indies.