O White Martins deixou comentário no post abaixo. Ele tem um iPod com 160gb de capacidade. Eu não consigo mensurar isso. Mas, segundo ele, para ouvir cada música armazenada no aparelhinho, ele teria que deixar os fones no ouvido por três anos e meio. É mole? Não, não é não. Quando abro meu iTunes já fico pensando nas 84 horas necessárias para tocar tudo que tem ali. E olha que os meus 350 discos não vieram para o computador, estão todos guardados na estante.
Como no fim de Starway to heaven, it makes me wonder: quem tem tempo pra tudo isso? Comecei ouvir rock'n'roll quando tinha 11 anos. Meu primeiro álbum foi "Appetite for destruction", do Guns 'n Roses, gravado em uma fita cassete. Dali não parei. Comprei muitos vinis até 1992, 93, quando ganhei um daqueles 4 em 1 - rádio, cassete, vinil e cd - da Philips. Para entrar na onda tecnólogica e pensar na música como arquivo, levou 16 anos.
Quando comecei a ter acesso à internet em casa, em 2000, a conexão era discada e baixar um arquivo mp3 levava a madrugada inteira. Então, o mp3 servia como uma espécie de teaser; ouvia a música e compraria o disco depois, caso gostasse. Se não, ela ficaria largada em uma pasta do Windows para todo o sempre (ou até o HD dar pau). Quando vim para Brasília, fiquei sem internet até o início desse ano. Então foram três anos me desintoxicando da dependência da rede.
O problema é que o vício volta. Meu índice de leitura caiu novamente, assim como o de filmes vistos. Porém, algumas coisas não mudam. Apesar de quase ninguém baixar apenas uma música - já que as conexões estão mais rápidas e o BitTorrent é uma beleza -, não consigo ser aquele heavy user de músicas na rede. Não se enganem, eu vivo com o iPod ligado quando não estou em casa ou trabalhando. Mas não substituí ainda o arquivo pelo pacote CD, caixinha e encarte.
A relação, claro, é emocional. Ainda mais quando chegamos a um ponto onde a qualidade da música está cada vez pior. E eu não estou falando de bandas, e sim da qualidade de gravação. Para deixar os discos cada vez mais altos, já que muitos ouvem a partir de caixinhas de computador, os engenheiros de som têm aplicado a compressão dinâmica, que reduz a diferença entre os sons mais altos e mais suaves de uma canção. Para saber mais, veja aqui.
A minha relação com a música é de amor. Presto atenção nos detalhes, nos ruídos, nos efeitos. Disseco o encarte, leio as participações e os agradecimentos. Escolho aqueles que são bons para fazer companhia na leitura, para o banho antes de ir para o trabalho ou para as festinhas rock 'n roll. E tudo isso eu gosto de fazer no meio físico, com os CDs. Ok, posso ser um tanto antiquado nisso, apesar de conviver bem com as tecnologias.
Mas, pra mim, apesar de ter toda a rede à disposição, continuo do mesmo jeito: usando os mp3s como teasers. Se baixo e gosto, compro. Se não, deixo ali largado. Tem outra coisa. Eu gosto de entrar numa loja, tipo a Cultura ou a FNAC, e perder algumas horas fuçando nas prateleiras. Me interesso pela capa, coloco para ouvir. Passo pelo nome, lembro da dica do jornal e coloco para ouvir. Depois, ou volta para a prateleira ou vai para o caixa. E para o iPod.
A primeira decisão do Avaí
Há 7 anos
5 comentários:
E sai o Mário da loja falido e cheio de novidades...
Te devo a Amy Winehouse pra sempre!
;)
Talvez o bacana desse iPod de 160 giga seja sempre ter espaço para as coisas novas e não entupir ele com o que já se tem
A experiencia com a música, a interação com ela é muito particular mesmo. Eu, por exemplo, por mais contraditório que possa parecer, não consigo deixar rolando uma música sem saber o nome, de que disco é, etc.
Tipo, a música tem que ser primeiro plano. quando páro para ouvir um CD (quer dizer, parava, pois não compro mais CD), aquela era a atividade principal. Conheço gente que vai "ler" e bota música. Que vai conversar e bota música. Se for música ja conhecida, beleza. Agora, quando compro um disco ou quando baixo uma discografia inteira (vc tem razão, eu, ate por desconhecimento do quê seja o quê dentro da obra de uma banda, baixo discografias interias, em vez de uma musica, ja que nao tenho problema de espaço), faço questão de saber o nome de cada faixa. Ja ate bati o carro porque começou a tocar uma m[úsica do Ozzy que eu nao sabia (assim como nao sei o nome de 90% das musicas dele) e peguei o ipod para "aprender". Presto atenção, curto.
Mesmo que leve 3 anos e meio, tenho certeza que metade, pelo menos, do que tava no meu ipod, não será ouvido. Outro dia um amigo tacou a discografia do audioslave e do evanescense no meu cpu. Eu nem curto nenhuma das bandas. Pelo contrário, acho evanescense meio completamtne chato (mas nao conheço tudo, admito). Mas nao preciso economizar. com 160GB dá pra vc ter tudo o que quer e ainda pensar em começar a usar videos, clips etc.
Vi a quarta temporada do Lost quase toda no ipod, depois de tacar os arquivos no bichano. Claro que isso só tem sentido quando vc ta viajando.
Mas, ainda mais agora que tenho uma mesa de som de ipod, os 160GB acabaram de vez com qq chance de eu levar CDs para tocar numa festinha por exemplo.
Atenciosamente,
Ô White Martins, esse texto não é, de maneira alguma, uma crítica ao seu comentário. Ele só serviu de gancho para eu escrever sobre a minha relação com a música. O espaço proporciona guardar muita coisa, como você mesmo citou. Nós somos de uma geração diferente; portanto, nossa relação com a música é diferente. Se há alguma crítica nesse texto - não foi escrito com essa intenção -, é sobre a galera mais nova, que baixa as coisas indiscriminadamente sem nem saber o que estão ouvindo. Para eles, música é um arquivo e nada mais. Vi essa cena ontem. A filha de 17 anos de uma colega de gabinete ouvia seu iPod no volume máximo no computador ao meu lado. Reconheci uma das músicas e comentei com ela: "Pô, você tá ouvindo POD". Ela soltou um "ahn", parou, tirou o fone do ouvido e olhou no visor do aparelho, como não soubesse quem estava gritando no seu ouvido.
=)
Eu não levei como crítica não. Meu comentário foi apenas para acrescentar, hehehe...
E no Anivermário, usaremos a mesinha de ipod.
Atenciosamente,
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