Lembro bem do dia que conheci Amy Winehouse. Já tinha lido sobre ela, colegas recomendavam. Até que entrei na FNAC e coloquei "Back to black" para ouvir. A ideia era dar o disco de presente para uma (hoje) amiga, já que a inglesa era costumeiramente comparada a Nina Simone. Ao ouvir Rehab pela primeira vez, experimentei algo que não sentia há tempos. Surpresa e deslumbramento misturados que imediatamente resultaram em um sorriso no rosto e a certeza que estava ouvindo um disco que entraria para a história da música.
Quatro anos depois, estou vendo televisão quando vem a notícia que Amy morreu. Que triste! Não me sentia assim desde que Kurt Cobain morreu. E aí comecei a pensar que a história de ambos é mais parecida do que podemos supor. Além da tal coincidência de fazerem parte do Clube dos 27 - junto com Jim Morrison, Janis Joplin e Jimi Hendrix, entre outros - os dois eram pessoas extremamente apaixonadas pela música, donos de talentos extraordinários. Ficaram conhecidos mundialmente após o lançamento de seus segundos discos. Kurt e o Nirvana com "Nevermind", Amy com o já citado "Back to black".
Não é só isso. Parece que ambos tinham extrema dificuldade em lidar com tudo que vinha a reboque da fama alcançada por seus trabalhos. Kurt repetidamente dizia que não queria nada daquilo. Depois do lançamento de "In utero", último disco de estúdio do Nirvana, ele já dava sinais que queria sair da banda, fazer outras coisas. Não estava interessado em excursionar pelo mundo (talvez nunca esteve), em gravar mais com os colegas Krist Novoselic e Dave Grohl, em tocar Smells like teen spirit e por aí vai. Durante a curta carreira da banda - cinco anos -, entrou e saiu de clínicas de habilitação por conta do vício em heroína, teve uma overdose em Roma e acabou dando um tiro de espingarda na cabeça em abril de 1994.
Mais do que Kurt, Amy agonizou em praça pública por um bom tempo. Suas brigas com o (ex) marido Blake, as entradas e saídas do rehab, as quedas no palco, o esquecimento de letras durante os shows. Fez a fama de muitos papparazzi por conta de seus excessos em público. E também começou a atrair a atenção mórbida de muita gente. No show que ela fez em São Paulo em janeiro, muitos vibravam cada vez que ela esquecia parte de uma letra, torciam para que ela caísse. Saíram frustrados... Não foi um grande show, talvez nem bom. Mas, de qualquer maneira, foi possível presenciar ao vivo um daqueles talentos que aparecem bem de vez em quando.
Vi muita gente dizendo que Amy morreu por conta das drogas. Teve até comparação com Keith Richards, notório doidão que até hoje está aí cheirando todas. São coisas diferentes. Acho que para a cantora as drogas foram o caminho, o meio, para fugir de um mundo onde ela não conseguia se adaptar. Nunca foi aquela coisa de "vamos curtir, vamos cheirar todas" e ficar viciada até não ter mais como viver sem beber até cair, sem cheirar até o fim. Se não fosse desta maneira, ela encontraria outra até sair desta vida para sempre.
"I wish I could say no regrets
And no emotional debts
'Cause as we kissed goodbye the sun sets
So we are history
The shadow covers me
The sky above a blaze
That only lovers see"
Tchau, Amy.
A primeira decisão do Avaí
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