quarta-feira, 31 de agosto de 2011

A culpa também é minha

Tento dormir e não consigo. Uma dor de cabeça me persegue desde que cheguei em casa do trabalho. Já foram dois paracetamol e nada dela dar trégua. Teve uma pequena quando enterrei a cabeça no livro mais recente do Dennis Lehane, que mistura negros, irlandeses, italianos, gripe espanhola, movimento anarquista e desemprego nos Estados Unidos das primeiras décadas do século passado. Aí voltou quando eu, sem sono, resolvi ligar o computador e dar uma olhada no que o povo falava por aí.

Aí comecei a achar que parte da minha dor de cabeça vinha do resultado do dia na Câmara. O amor não estava escrito nas estrelas, mas a absolvição da deputada filha do ex-governador do Distrito Federal estava. Nesta hora, as pessoas atiram para o mesmo alvo. Detonam a classe política, enxergam um grupo hetegêneo como um só. E nivelam pra baixo. Nada me cansa mais - e piora minha dor de cabeça - do que o maniqueísmo. A preguiça de entrar em uma discussão já é grande. Como na tirinha do Dilbert, parece que as pessoas aprenderam a discutir na internet...

Entre o branco e o preto existem vários tons de cinza, diz o senso comum. É verdade. Quer dizer, pelo menos eu gosto de pensar que é. Analisemos o caso em questão. A deputada foi filmada em 2006 recebendo dinheiro da mãos de um notório delator do que ficou conhecido como o maior esquema de corrupção do país. Talvez não fosse o maior, mas com certeza o mais documentado... Três anos depois a casa caiu pra muita gente. Um governador foi preso acusado de subornar uma testemunha do caso, vários vídeos vieram à tona. Menos o da deputada em questão.

No ano passado, três deputados se estreparam. Dois tiveram que renunciar e uma outra foi cassada pelos colegas. Seus vídeos tinham o mesmo roteiro da deputada que foi salva ontem. Maço de dinheiro sai de uma mão e vai parar na outra. Depois entra numa bolsa, é colocado nas meias, tem oração agradecendo. Parece até um filme pornô. Mudam os diálogos, o objetivo é o mesmo. A diferença é que as imagens, gravadas na mesma época, tiveram quase dois anos de diferença até o público ficar sabendo.

Com a absolvição, vêm as teses: joguem uma bomba no Congresso! Queremos os militares de volta! Político é tudo corrupto! As duas primeiras nem são consideráveis, mas a terceira que eu quero discutir. Sim, existem políticos corruptos. A sensação que temos é que não são poucos. Talvez, até, que formem uma maioria. Agora, eles simplesmente não se autodeclararam eleitos para os cargos que estão. Eles tiveram votos suficientes para receber o diploma e depois tomar posse. Ou seja, o eleitor também tem culpa.

Pesquisas mostram que boa parte dos eleitores esquecem em quem votaram nas eleições proporcionais, aquelas para vereador e deputado. E quem já trabalhou em campanha política percebe a diferença dos pleitos feitos a um candidato para prefeitura ou governo e de um para deputado. Enquanto no primeiro caso geralmente as pessoas querem saber o que será feito para sua população, para sua área, no segundo é o que ele vai fazer "por mim". Ou seja, o interesse é direto e pessoal. É emprego, é dinheiro, é favor.

Essa é uma parte do problema, que sinceramente não termina aí. Ao mesmo tempo que votaram e escolheram mal seus representantes, não temos o hábito ainda de cobrar de nossos representantes posturas éticas, ilibidas, condizentes com o cargo que assumem. Enquanto o sentimento de corpo cresceu muito - os pisos nacionais dos professores e dos policiais são dois exemplos -, é bem lento o movimento contra a corrupção. Nós não temos que temer os governantes; eles é que têm que temer a gente.

Agora, não se pode colocar a culpa exclusivamente nos eleitores. A culpa é compartilhada com os financiadores de campanha, que em boa parte das vezes escolhem o destino do dinheiro de acordo com seus interesses empresariais. É compartilhada com uma Justiça lenta, que leva décadas para julgar políticos dos seus mal feitos. É compartilhada com um Ministério Público que arquiva denúncias com quase nenhuma investigação. E também por um sentimento dos próprios políticos de que o mandato pertece a eles, e não à sociedade que os elegeu.

Resumindo, existem muitas nuances que acabam resultando na absolvição de ontem. Temos culpa sim. Ela faz parte de um contexto mais amplo do que podemos imaginar. Repito a frase: os políticos precisam temer a população, os eleitores. Quanto mais cobrança e fiscalização da nossa parte, melhor. O nosso voto pode levar um ao Congresso. Mas, a partir do momento que ele chega lá, faz parte de um conjunto. E é esse conjunto que precisamos acompanhar, pressionar, fiscalizar, protestar. A mudança tem que acontecer através da gente.

Atualização: tive que dar uma atualizada no post após ler outras coisas. Tipo uma moça reclamando, após apresentar uma série de problemas, que não existem lideranças no combate à corrupção. E, por isso, não se envolvia... Sério que ela acredita no que disse? Gente que vive reclamando do Tiririca e nunca fala do Maluf ou do Natan Donadon. Gente que propõe criação de hash tags no Twitter como forma de protesto. Cara, que preguiça...

Crédito da foto: Diógenis Santos/Agência Câmara

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Pode deixar o chapéu

E aí o camarada Túlio veio e já voltou para a Indonésia. Rolou uma despedida básica no Beirute, com uma esticada em um famoso cabaré da cidade. É engraçado ver a escolha de músicas das strippers. Se é que são elas mesmas que escolhem... tem uns chavões, umas coisas impensáveis e outras simplesmente ruins (para meu gosto, claro). Papo vem, papo vai, fiquei pensando numa listinha à Rob Flemming, o personagem da literatura mais citado na história deste blog. Tá, ele deve ser o único, mas vamos lá a mais um top 5. Desta vez, ele será dividido em duas partes: quatro chutes e um chavão rocks para tirar a roupa.

Os quatro chutes:
1- Faith no More - Edge of the world
Ok, eu sei que a música é sobre pedofilia. E toda vez que a ouço lembro do João Gordo dizendo, numa Bizz de muito muito tempo atrás, que Mike Patton era doente. Mas ela tem uma malícia (também pudera) e um ritmo propício para uma dança mais lenta, com boas manobras no poste. A canção se segura basicamente na voz de Patton, no piano e na bateria; o baixo está ali, em união com tudo isso. Até pela letra, uma fantasia de colegial casa bem com a música.



2- Black Keys - Howlin' for you
Não tem declaração maior do que quando um cara diz que está uivando para a mulher. É o que diz uma das melhores músicas deste discaço do Black Keys. Esta, mais acelerada, transborda sensualidade. Se for iniciante, talvez tenha problemas em acompanhar. Ah, convenhamos que o clipe ajuda bastante nisso. Essa mistura de Machete com Kill Bill dá muitas ideias.



3- Queens of the Stone Age - Make it wit chu
Quando li a Juliett Lewis classificando a música do QotSA como uma das mais sexies de todos os tempos, não concordei. Mas olha, tem seus encantos. Ritmo, letra e melodia em perfeita sintonia para um bom strip. Toda vez que ouço, fico imaginando um birosca de beira de estrada, cheia de caminhoneiros e mulheres da vida, fumaça de cigarro, uísque barato nos copos e um palco no meio de tudo isso.



4- Nine Inch Nails - Closer
"I wanna fuck you like an animal, I wanna feel you from the inside." Com um refrão como esse, Trent Reznor canta a agonia do cara que morre de tesão por uma mulher, que precisa do sexo para se sentir menos pior. Com sua batida eletrônica, Closer tem o necessário para uma boa dança, especialmente se misturada a elementos S&M.



... e um chavão:

5- Joe Cocker - You can leave your hat on
Não basta a letra falar de strip. A música tem que ser trilha de dois filmes em cenas de... strip! É claro que a leitura de Cocker para a canção escrita por Randy Newton ficou imortalizada com a cena de Kim Basinger tirando a roupa para Mickey Rourke em 9 1/2 semanas de amor. Agora, em Ou tudo ou nada ela ganhou um contorno cômico. Chavão porque, além de estar em filmes e ser sempre lembrada por isso, sempre é o som de alguma stripper em algum cabaré por aí.