domingo, 15 de novembro de 2009

O artilheiro de sangue azul

Dias atrás, um e-mail me vez lembrar de um período tumultuado na minha vida acadêmica. Entre o fim de 2003 e o início de 2004, eu tentava conciliar o trabalho como editor de Esporte do finado jornal O Estado, em Florianópolis, com o meu trabalho de conclusão de curso. Eu tinha mudado tudo no meio do caminho. A ideia era fazer uma grande reportagem em texto sobre o assassinato do Seo Chico, o último produtor artesanal de cachaça da cidade. Após fazer uma reportagem para o mesmo jornal em 2001, a proposta começou a crescer na cabeça. Mas algumas coisas acabaram me levando a colocar o projeto de lado. Um colega ia fazer antes, o filme que estava em produção...

De tanto conversar com um fotógrafo colega de redação, descubro a informação que me mostrou o rumo. Saul Oliveira Filho, o fotógrafo, era filho do maior artilheiro da história do Avaí. Artilheiro, treinador e presidente. Era tentador demais, para um avaiano, tentar escrever a vida de Saulzinho, o pequeno ponta esquerda que escreveu com gols sua história no futebol catarinense. Saul, o colega, tinha em mãos um manuscrito escrito pelo pai, contando casos e passagens da sua vida. Ele morreu antes de terminar. Como confiava em mim, passaria para eu usar como base no tcc.

Apesar do bom começo, o resto do trabalho não fluiu bem. O trabalho me consumia. As entrevistas acabavam não rendendo, a pesquisa teve umas janelas bem grandes abertas. Somente uma licença não remunerada de 15 dias não foi suficiente para fazer tudo que tinha para fazer. Quando entreguei o trabalho, veio o susto. Minha orientadora resolveu suspender minha banca para o semestre seguinte. Ganhei mais duas semanas. Reescrevi o texto todo, apurei um pouco mais, refiz umas entrevistas e bombei a pesquisa. Foi o suficiente para passar, muito inferior ao que Saul merecia.

O e-mail recebido era de um conselheiro avaiano. Ele descobriu o meu tcc, queria ter acesso. Mandei para ele, ao mesmo tempo que fiz várias ressalvas sobre o trabalho. Mesmo assim, parece ter agradado. Mas, após o pedido, me vi forçado a reler aquele trabalho, que um dia era um projeto de livro. Minha autocrítica aponta uma série de erros. O texto está duro, a apuração tem buracos... Se fosse retomar o projeto, praticamente teria que começar do zero. Porém, nesse momento, sabendo o caminho das pedras, ficaria mais fácil fazer uma obra à altura de Saulzinho.

Quem sabe um dia né?

Um comentário:

Unknown disse...

E AÍ MÁRIO,SERÁ QUE A GENTE PASSA PELO BOTAFOGO?