domingo, 29 de junho de 2008

Comanda 083

Acabou que nem todos estavam lá. Zé e Pedro não apareceram, cada um com seus motivos. Metal, Marnie, Serginho e Ricardo não conseguiram entrar. Então éramos eu, Ronaldo, Luiza, Bode Velho, Marcilds e Thiago aproveitando a última noite que teríamos na Landscape. Casa lotada para ver a rapaziada da Indiecent e o convidado especial Bezzi. O que mais comentávamos era o que faríamos a partir do próximo fim de semana. Onde iríamos para beber, dançar e ouvir rock'n roll?

A Landscape sempre foi o nosso Central Perk (copyright Zé). O lugar onde nos encontrávamos para, antes de tudo, colocar o papo em dia. A quantidade de conversas bagaceiras, desabafos, tirações de sarro e até brigas não está no gibi. Por isso, havia uma certa melancolia no ar na última noite. Brasília é pródiga para o rock alternativo. Ainda mais para pessoas chatas como nós, que mais reclamamos do que elogiamos. Gate's é pop demais, Galleria é trash demais. Nunca ficamos satisfeitos.

Casa lotada na noite de ontem. Na fila, o que mais se falava era sobre o fechamento da Lands. Sobrou até para o Arruda e o decreto que limitou o funcionamento dos bares por causa do barulho. Durante a festa, ouviu-se algumas vezes um coro de "Bosco, Bosco". Primeiro na hora que o Lago Norte ficou sem luz por alguns minutos. Depois, na hora que a festa foi interrompida para o sorteio de um iPod Shuffle.

Vieram três números antes de sortearem a comanda 083. Justamente a minha, que a única rifa que ganhei foi uma toalha do Fisk quando fazia inglês lá. Claro que eu fiquei surpreso. A noite, que já estava divertida, ficou mais legal ainda. A música, durante toda festa, não foi lá essas coisas. Aposto que o repertório na Joselito tava bem melhor. Mas isso foi um detalhe. O importante era pagar a última comanda na Landscape.

sábado, 28 de junho de 2008

Crianças, isso é só o fim

Júpiter Maçã e Wander Wildner me ensinaram que um lugar para ser do caralho tem que ter gente legal, um som legal e cerveja barata. Em Florianópolis, tínhamos o Bar do Franck, em frente à Lagoa da Conceição e toda a beleza natural da Ilha de Santa Catarina. Wander, por sinal, tomou um banho de lagoa em uma madrugada de agosto de um ano que não lembro após seu primeiro show na capital dos catarinenses. Um delegado odiava tanto o lugar - "que só tinha gente feia", segundo ele - que não descansou enquanto não fechou o bar. Conseguiu.

Em São Paulo, eu, Dilson e Upiara vivíamos no Matrix, birosca rock'n roll na Vila Madelena. Lugar escuro, um clima meio ZL, mas tava valendo. Sempre tocava as coisas que a gente gostava de ouvir, as meninas eram interessantes e tinha boa cerveja a um preço honesto. O Matrix não acabou, só não é mais o mesmo. A última vez que fui lá, em agosto do ano passado, tive medo. O som continuava o mesmo, rolando todas as canções que nós gostamos. Só que as pessoas não eram mais as mesmas. Era uma balada de mano mala. Fiquei triste, nunca mais voltarei.

Não sei por quê mas não consigo me lembrar a primeira vez que fui à Landscape. Recordo da segunda. Era uma festa da turma que viria a me acolher no meio do cerrado: Bode Velho, Ronaldo e Thiago comandando as carrapetas. Casa vazia até sei lá que horas. Eu subo para o mezanino e fico lá colocando o papo em dia com a Flávia, que teve uma passagem meteórica por Brasília. Quando descemos, a pista bombava ao som do melhor rock'n roll. Foi paixão à primeira vista.

Gradualmente a Landscape virou a minha segunda casa. Ainda mais depois que eu me mudei para o fim da Asa Norte, e fiquei a cinco minutos do lugar. Nem que fosse lá só para reclamar das músicas, não descer para a pista, ficar bebendo cerveja e jogando papo fora. Fiquei amigo do Bosco, da Carmen, do Clodoaldo, de todos que fizeram a birosca andar e transformar o underground brasiliense. Foram três anos fantásticos, o maior tempo que uma boate rock'n roll durou na capital, segundo o Bode.

Por mais que fosse ao Matrix quase todo fim de semana, e tivesse presenciado vários shows no Bar do Franck, nenhum deles se compara à Landscape. Combinação perfeita entre pessoas, som e bebidas. O verdadeiro lugar do caralho. Ontem, Bode Velho manda um e-mail dizendo que o Bosco decidiu fechar o lugar e que a última festa acontecerá hoje, com o povo da Indiecent e o Bezzi (sim, o cara da música do CSS). Não vou aqui discutir os motivos, cada um sabe o que faz, mas me senti um tanto órfão.

Toda a turma estará lá hoje para se despedir da Landscape. Será uma noite que ninguém quer que acabe. Depois, a partir de domingo, estaremos todos perdidos nas noites sujas de Brasília. E que o deus metal nos proteja.

E agora?

"Comunicado Landscape Pub
encerramento das atividades

Viemos comunicar que o projeto Landscape Bar, posteriormente Landscape Pub encerra suas atividades a partir deste final de semana. Estamos aqui pedindo desculpas primeiramente aos produtores que tinham suas festas agendadas, mas contamos com a sua compreensão e a de todo o público que fiel e guerreiro sempre apoiou os eventos realizados naquele local; Que hoje conta com o documento oficial de funcionamento (alvará), essa é uma luta de todos nós da cena alternativa a vontade de se ter um espaço que lutou ardúamente noites e dias pela a permanencia deste. Uma vez mais fica aqui o agradecimento aos produtores e público pela a iniciativa pioneira de união em prol da música inteligente. Contaremos com a festa de despedida contida nos sites: www.landscapepub.com.br ou www.indiecentmusic.comBrasília, sexta-feira 27 de junho de 2008.

Bosco
"

segunda-feira, 16 de junho de 2008

Imagem é tudo?

"Não consigo me lembrar. Quem é ele? Oh, ele frequentou a mesma escola de Artes que eu. Changes, talvez. É isso aí. Nunca fui grande fã, não. É tudo pose. Sempre a fodida pose. Não tem nada a ver com música. E ele sabe disso. Não me lembro de mais nenhuma música dele que tenha feito meu cabelo arrepiar."

Keith Richards, na última edição da revista Uncut, especial David Bowie, ao citar uma grande música do cantor. O cara pode até ter cheirado as cinzas do pai, mas continua tendo a manha. E dá para relacionar com tudo que acontece na música hoje: o importante é parecer, e não ser.

Panis et circenses

Neil Young canta que o rock'n roll não pode morrer nunca. Ele parece ser a exceção, já que outros artistas que transitam pelo gênero - como Marilyn Manson e Lenny Kravitz, para citar exemplos recentes -, dizem que o rock já era. Por mais que eu seja um fã de música, duas festas que fui no fim de semana me levaram à seguinte conclusão: o público médio não quer qualidade. Aprontam-se no melhor estilo, mas, na hora de dançar, vale qualquer coisa.

Sexta-feira, Espaço Galleria, um antigo puteiro transformado em boate, voltada mais para o público gay. Vou lá conferir a festa com uma amiga. Lugar lotado, fila até sei lá que horas da madrugada. Mais ou menos 90% dos que estão lá são homens, a grande maioria gays. Tem alguns heteros procurando mulheres descoladas e liberais por lá. Afinal, é notório: os gays sabem melhor do que ninguém como fazer festas. Entre os leilões - parecia que eu estava assistindo o Canal Rural -, muita música ruim. Ruim mesmo, de É o Tchan a Rouge, passando por Mamonas Assassinas e outras porcarias.

No dia seguinte, fui para minha segunda casa. Chegando a Landscape, o Bosco, dono do lugar mais legal de Brasília, me recepciona com a alegria de sempre. E solta um "pô Marão, tavas sumido, tem tempo que não apareces". É, devia fazer uma semana que eu não ia lá... Enfim, festinha anos 80, comandada por um chapa. Os momentos mais cheios da pista eram justamente aqueles da parte ruim da década perdida. Quando tocava a parte boa, dava uma esvaziada legal. Talvez por isso que a qualidade tenha ficado entre o começo da festa, quando tinham poucas pessoas por lá, e o final.

Pelo que vi nas duas festas, o público não quer rock de qualidade. As festas que enchem aqui em Brasília ou são para uma galera fashionista ou então para quem não tem gosto. Aí só me faz crer que o estilo realmente está morrendo. Nem as festas do Cult 22, dos heróicos Marcos Pinheiro e Abelardo, enche como anos atrás. Olha que eu nem sou radical. Gosto de investir em mashups quando comando as carrepetas, e tocar umas coisinhas diferentes de tempos em tempos. Sem exageros. Apesar do Ronaldo e do Thiago reclamarem de vez em quando.

Ah, eu me diverti à valer nas duas festas, mesmo sem ter sintonia com o que tocava. Na primeira por conta das situações hilárias que presenciei - o leilão foi uma delas -, e na segunda por estar com meus amigos. Mas bastou uma vez, não vai rolar repeteco em nenhuma das duas. E por conta de um fator bem básico: eu preciso do old fashioned rock'n roll na veia. Se a música está boa, o resto não importa. Nessas horas é que dá uma saudade incrível de São Paulo e suas várias opções. E um alívio por não morar mais em Florianópolis e os covers de Creedance.

domingo, 15 de junho de 2008

Mr Wiggles

A tirinha mais politicamente incorreta de todos os tempos. Além de boa, nunca falha:




quarta-feira, 4 de junho de 2008

Campanha

Do blog do Kemp, Lactobacilo morto:



Muito espaço para nada

O White Martins deixou comentário no post abaixo. Ele tem um iPod com 160gb de capacidade. Eu não consigo mensurar isso. Mas, segundo ele, para ouvir cada música armazenada no aparelhinho, ele teria que deixar os fones no ouvido por três anos e meio. É mole? Não, não é não. Quando abro meu iTunes já fico pensando nas 84 horas necessárias para tocar tudo que tem ali. E olha que os meus 350 discos não vieram para o computador, estão todos guardados na estante.

Como no fim de Starway to heaven, it makes me wonder: quem tem tempo pra tudo isso? Comecei ouvir rock'n'roll quando tinha 11 anos. Meu primeiro álbum foi "Appetite for destruction", do Guns 'n Roses, gravado em uma fita cassete. Dali não parei. Comprei muitos vinis até 1992, 93, quando ganhei um daqueles 4 em 1 - rádio, cassete, vinil e cd - da Philips. Para entrar na onda tecnólogica e pensar na música como arquivo, levou 16 anos.

Quando comecei a ter acesso à internet em casa, em 2000, a conexão era discada e baixar um arquivo mp3 levava a madrugada inteira. Então, o mp3 servia como uma espécie de teaser; ouvia a música e compraria o disco depois, caso gostasse. Se não, ela ficaria largada em uma pasta do Windows para todo o sempre (ou até o HD dar pau). Quando vim para Brasília, fiquei sem internet até o início desse ano. Então foram três anos me desintoxicando da dependência da rede.

O problema é que o vício volta. Meu índice de leitura caiu novamente, assim como o de filmes vistos. Porém, algumas coisas não mudam. Apesar de quase ninguém baixar apenas uma música - já que as conexões estão mais rápidas e o BitTorrent é uma beleza -, não consigo ser aquele heavy user de músicas na rede. Não se enganem, eu vivo com o iPod ligado quando não estou em casa ou trabalhando. Mas não substituí ainda o arquivo pelo pacote CD, caixinha e encarte.

A relação, claro, é emocional. Ainda mais quando chegamos a um ponto onde a qualidade da música está cada vez pior. E eu não estou falando de bandas, e sim da qualidade de gravação. Para deixar os discos cada vez mais altos, já que muitos ouvem a partir de caixinhas de computador, os engenheiros de som têm aplicado a compressão dinâmica, que reduz a diferença entre os sons mais altos e mais suaves de uma canção. Para saber mais, veja aqui.

A minha relação com a música é de amor. Presto atenção nos detalhes, nos ruídos, nos efeitos. Disseco o encarte, leio as participações e os agradecimentos. Escolho aqueles que são bons para fazer companhia na leitura, para o banho antes de ir para o trabalho ou para as festinhas rock 'n roll. E tudo isso eu gosto de fazer no meio físico, com os CDs. Ok, posso ser um tanto antiquado nisso, apesar de conviver bem com as tecnologias.

Mas, pra mim, apesar de ter toda a rede à disposição, continuo do mesmo jeito: usando os mp3s como teasers. Se baixo e gosto, compro. Se não, deixo ali largado. Tem outra coisa. Eu gosto de entrar numa loja, tipo a Cultura ou a FNAC, e perder algumas horas fuçando nas prateleiras. Me interesso pela capa, coloco para ouvir. Passo pelo nome, lembro da dica do jornal e coloco para ouvir. Depois, ou volta para a prateleira ou vai para o caixa. E para o iPod.